No Alto Alentejo nasceu a Sra. D.ª Ana, mais precisamente em Portalegre, na terra das tapeçarias.
Foi criada pela avó e, para grande pena sua, teve que abandonar a escola para ir trabalhar no campo. A apanha da azeitona e o trabalho no carvão precisavam de reforços e a Sra. D.ª Ana lá foi, com apenas 8 anos. Tempos que recorda terem sido muito duros!
Aos 13 anos rumou sozinha para Lisboa apenas com a roupa que trazia no corpo. O desafio agora era outro, para além da sua tenra idade… trabalhar em casa de uma família como empregada interna. Foi aqui que aprendeu a ser mulher e mal sabia, que seria nesta casa que encontraria o seu futuro marido.
Casou com um “excelente marido” de quem teve duas filhas que lhe deram 4 netos e 4 bisnetos. O casamento, acontecimento da sua vida, foi motivo e pretexto para começar a pegar no lápis e caneta e a escrever algumas palavras. Teve que aprender a assinar para se poder casar. Foi o seu marido que ensinou a fazê-lo!
A curiosidade e o bichinho de aprender a ler melhor ficou sempre a pairar na cabeça da Sra. D.ª Ana. Recentemente, Maria Grazia, uma voluntária italiana da Associação que esteve muitos anos no Brasil, disponibilizou-se para dar aulas de alfabetização … e os progressos na leitura foram notórios! A relação entre as duas ficou muito forte e os contactos entre ambas ainda acontecem. Ora pelas novas tecnologias, ora presencialmente quando a Maria Grazia vem a Portugal.
Atualmente vive sozinha na Mouraria, após a morte do marido. Ocupa os seus dias nas lides domésticas e nada pode ficar fora do lugar.
Como boa alentejana que é, a culinária é um dos seus passatempos. Gosta de cozinhar, principalmente pratos alentejanos. A sopa de grão e as migas são de comer e chorar por mais!
Sai diariamente à rua para fazer compras, dar uma volta a pé e ir até ao café. A ida ao café traz-lhe à memória os pequenos almoços tomados com o marido. Um galão, uma torrada ou um bolo!
A janela de sua casa, que dá para a rua, é também uma forma de se sentir mais acompanhada e de dizer olá a quem ali passa. A boa disposição e a gargalhada fácil da Sra. D.ª Ana não deixam ninguém indiferentes.